Epifania na abertura do Mestrado Profissional em Artes da Cena | Escola Superior de Artes Célia Helena
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Epifania na abertura do Mestrado Profissional em Artes da Cena

 

Renato Borghi, em agosto deste ano, foi o convidado especial para dar as boas-vindas à terceira turma do Mestrado Profissional em Artes da Cena da Escola Superior de Artes Célia Helena. Chega para compartilhar experiências, utopias, caminhos e descaminhos na trilha de uma carreira construída pela crença na arte como possibilidade de reflexão crítica sobre a sociedade e o estado de ser “ator”, em presença.

Impossível não lembrar de tantas e tantas vezes em que Renato esteve no Célia Helena para ministrar cursos e também apresentar a montagem de 3 cigarros e a Última lasanha, de Fernando Bonassi e Fernando Navas, com direção de Débora Dubois (2002), revisitar o texto de Andorra, de Max Frisch, com elenco de alunos no projeto Estúdio da Cena, compartilhar, em geral, de forma crítica, o olhar para a trajetória do teatro brasileiro a partir da própria experiência.

O tempo cronológico é extenso e reflete uma vida. Se são muitas as mudanças no tempo, algo permanece: a importância da experiência, criativa e socialmente compartilhada. A noite é preenchida pela trajetória de uma vida dedicada por escolhas de projetos artísticos, sempre impulsionados pela compreensão da importância do teatro como veículo de fala, de ativismo cultural, em que não se dissocia a função do artista de sua responsabilidade social.

Uma história de vida em que, cantoras como Dalva de Oliveira e atores dos primórdios do teatro brasileiro, como Procópio Ferreira, e Dulcina de Morais, encontram expressão ao servirem de inspiração para, junto com Zé Celso criarem o Teatro Oficina.

No Oficina, ao lado de Célia Helena, Miriam Mehler, Etty Fraser, Ron Daniels, Fauzi Arap, Esther Góes e direção de Zé Celso e a preparação de Eugenio Kusnet,, atuou em memoráveis espetáculos: Pequenos burgueses, de Máximo Górki (1963), Na selva das cidades, de Bertolt Brecht (1969), Andorra, de Max Frisch (1964), Galileu Galilei, de Bertolt Brecht (1969), Roda Viva, de Chico Buarque (1968).

Impossível não destacar, ainda no Teatro Oficina, sua irreverência criativa como Abelardo I, em O rei da vela, de Oswald de Andrade (1967), um manifesto tropicalista. em que arrebatou os prêmios Molière e da Associação Paulista de Teatro (APCT) como melhor ator. Irreverência revisitada na remontagem de 2017, em que pudemos ver um Renato com a mesma garra e energia na construção de um Abelardo usurário e manipulador.

Fora do Oficina, continua sua trajetória com montagens de espetáculos que refletiam sobre o momento político e social, como Frank V, de Dürrenmatt (1973), O que mantém um homem vivo, coletânea de textos de Bertolt Brecht, e outros.

A paixão por Dalva de Oliveira ganha o palco na voz de Marília Pera em A estrela Dalva, texto escrito em parceria com João Elísio Fonseca (1987). No mesmo ano encena outro texto, O lobo do Ray-Ban, com Raul Cortez e Christiane Torloni. Um sucesso de crítica e público.

Aos 52 anos de carreira profissional, desenvolveu, junto com Élcio Nogueira Seixas, no Teatro Promíscuo, uma pesquisa sobre as proximidades e diferenças da literatura teatral do Brasil em relação à de 18 países de língua espanhola e portuguesa dos continentes americano, africano e europeu. O projeto Embaixada do Teatro Brasileiro recolheu, durante 1 ano, 800 peças.

Ao longo de 60 de anos de palco de Renato Borghi, impossível não pensar que a arte só é possível pela troca, pelo compartilhamento e pela preservação da memória de quem fez e lutou pela modernização do teatro brasileiro.

A noite foi uma epifania!

Confira imagens do encontro:

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