Nossa Senhora das Nuvens aborda as dores do exílio - Escola de Teatro Célia Helena Inglês
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Nossa Senhora das Nuvens aborda as dores do exílio

Com elenco de formandos do Célia Helena, peça tem orientação de Marco Antonio Rodrigues


No teatro, a memória é um elemento que abre espaço para ao menos duas possibilidades: ou se trabalha o saudosismo, ou se usa o passado como uma projeção para o futuro. Essa escolha é um dos pontos mais instigantes para o diretor Marco Antonio Rodrigues, que orienta formandos do Célia Helena na montagem de “Nossa Senhora das Nuvens”, com estreia na segunda-feira (11), no Viga Espaço Cênico.

Formandos do Célia Helena interpretam imigrantes: rechaçados no país de origem, não aceitos no país de destino 


“O que faço com a memória?”, pergunta-se Rodrigues. “Fico preso no ressentimento ou uso como combustível para ir além?” O entrave reflete o próprio tema do texto. Escrito pelo argentino Arístides Vargas, o enredo aborda uma situação de exílio.


Dois personagens — Oscar e Bruna — se encontram em um lugar indefinido, e descobrem que ambos deixaram seu país de origem, Nossa Senhora das Nuvens. A partir daí, evocam memórias de casa, passando pela fundação do país e trazendo à tona outros personagens, figuras marcantes daquela terra.


Sob a batuta de Rodrigues, a voz dos protagonistas se divide no coro dos 17 atores que compõem o elenco. Todos eles fazem as vezes de Oscar e Bruna, além de se transformarem para dar vida a outros papéis. “Todos incorporam essa ideia de falta de território: estão num lugar do qual não dá para voltar para trás, mas não são aceitos no lugar onde foram parar”, diz o diretor.


Os acontecimentos de Nossa Senhora das Nuvens fazem com que o espectador relacione o local a diversos países — principalmente aqueles envolvidos na crise migratória de 2015, quando populações do Oriente Médio se viam forçados a deixar suas terras rumo à Europa, que, por vezes, não mostrou muita receptividade. O elenco, no entanto, trabalhou de um sutil exílio brasileiro: a cada vez mais diminuta noção de pertencimento ao país.


A trilha sonora amplia esta relação para a América Latina. Bastante musical, o elenco canta e toca diversos instrumentos, fazendo com que as canções surjam do calor da cena. Além de algumas composições próprias com influência até do funk, ouvem-se canções como “A Palo Seco”, de Belchior, e “Clandestino”, de Manu Chao. Outras músicas e falas aparecem em espanhol, assim como algumas placas carregadas pelos personagens com os dizeres “olvidados”, “libertad” e “donde están nuestros hijos?” — ou “esquecidos”, “liberdade” e “onde estão nossos filhos?”.


No cenário, uma grade separa o elenco do público: a plateia se torna uma população nativa hostil com os imigrantes


O toque hispânico remete à própria experiência de Arístides Vargas. Fundador do grupo teatral Malayerba, o cordovês se exilou em 1975, período no qual a Argentina enfrentava uma violenta ditadura militar, assim como nações vizinhas — entre elas, o Brasil. “Nossa Senhora das Nuvens” é a segunda parte do que o autor chama de trilogia do exílio.


Apesar do tema árduo, Vargas conta a história com humor, variando entre momentos de leveza e cenas mais contundentes. Essa característica é contemplada pela direção. “Não temos uma radicalidade no palco porque a dramaturgia não permite”, explica Rodrigues. “Trabalhamos com essa característica latinoamericana, que é positiva, de rir da própria desgraça.”


Para explicar esse traço, o diretor cita o documentário “Cuba e o Cameraman”, em que o cineasta Emmy Jon Alpert retrata histórias do povo cubano sob o embargo americano. “É curioso porque, apesar de serem momentos difíceis, a reação é sempre bem-humorada. Eles dizem ‘não dá para ficar chorando, temos que viver’. É algo bastante latino, embora estejamos perdendo um pouco esta característica”, analisa.


Uma tradução de “Nossa Senhora das Nuvens” e um artigo sobre o autor Arístides Vargas foram publicados em uma edição da Olhares, a revista acadêmica do Célia Helena. As apresentações são grátis e abertas ao público.


Serviço
“Nossa Senhora das Nuvens”, com direção de Marco Antonio Rodrigues
Viga Espaço Cênico – Rua Capote Valente, 1323, metrô Sumaré 2ª a 5ª, 11 a 14/12, 21h

Ficha técnica

ElencoAnita Cunha Beatriz Müer Bernardo Bibancos Bruna Alimonda Bruna Ferraroli Bruna Pinheiro Camila Lemes Carol Cavesso Fernanda Ferrer Isabela Tilli Isabele Bottacin Juliano Verissimo Naíra Gascon Pedro Amaral Pietro Alonso Rodrigo Mancusi Samira Hayashi
Estagiárias Lyvia Gamerco e Raíra Rosenkjar
Acompanhamento especial Marita Prado, aluna do Mestrado Profissional em Artes da Cena
Produção executiva
Diretor de produção: Sérgio Audi Produtor: Éder Bastos Técnico de luz: João Dalle Piage Estagiários: Jade Marques e Tayna Borovik
Corpo docente Projeto de Encenação – Marco Antonio Rodrigues Danças Brasileiras – Andrea Soares Caracterização Cênica e Figurino – Atilio Beline Vaz Cenografia e Espaço Cênico – Atilio Beline Vaz LIBRAS – Ilka Alcântara Legislação e Produção Teatral – Lilian Sarkis Estudo e Prática Corporal VI – Luaa Gabanini Estudo e Prática Vocal VI – Sonia Goussinsky
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