Política e situação de refugiados são o tema da peça Migrantes, de Matei Vișniec - Escola de Teatro Célia Helena Inglês
Escola de Teatro Célia Helena Inglês Notícias Política e situação de refugiados são o tema da peça Migrantes, de Matei Vișniec

Política e situação de refugiados são o tema da peça Migrantes, de Matei Vișniec

Espetáculo de formandos do Célia Helena tem direção de José Roberto Jardim

“Água. Desenhe água”, sugere o diretor José Roberto Jardim, em referência a uma parábola taoista. A tarefa só pode ser cumprida se a água estiver dentro de um recipiente, ou em estado de gelo, vapor. A água depende da forma, assim como o teatro. Essa é uma das ideias que guiam o encenador em “Migrantes”, peça de formandos do Célia Helena que estreia na segunda-feira (18), no Teatro Contêiner.

No espetáculo, o cenário não se limita a uma caracterização da história, mas tem grande relevância para contá-la. Como já aponta o título, o texto do romeno Matéi Vișniec aborda a situação de migrantes que deixam seus países em busca de uma vida melhor e mais estável em nações não os aceitam com facilidade. Tema bastante discutido no momento, a crise migratória também inspira “Nossa Senhora das Nuvens”, peça de outra turma de formandos do Célia Helena.

Parte do elenco que dá vida aos migrantes: dramas são
vividos em um espelho d’água no centro do palco

Projeções no fundo do palco mostram imagens dramáticas que representam a situação. Um exemplo é o registro do corpo do pequeno Alan Kurdi, de apenas três anos, encontrado em uma praia da Turquia. O menino sírio fugia do país com seus pais e irmãos e acabou se tornando um símbolo da questão migratória intensificada em 2015.

A ideia é transposta para a cena no formato de um espelho d’água, bem no centro do palco. É ali, parcialmente imersos, que os personagens da travessia expressam suas dores, suas preocupações e, principalmente, seus sonhos e desejos. “Essas personagens vão estar sempre molhadas, encharcadas”, diz Jardim. “É uma forma de transmitir a agonia.”

O espelho d’água fica entre duas plataformas iluminadas, nas quais se dividem os representantes do poder: o presidente do país de destino e sua assessora. Juntos, eles afinam o melhor discurso para passar uma boa imagem ao público, sem, no entanto, ter de atender aos apelos dos migrantes.

Bastidor: croqui feito para planejar o cenário, com praticáveis e
cabines com iluminação própria em torno do espelho d’água

A dupla tem o apoio da mídia, representada por quatro personagens que, de dentro de gaiolas, mesclam informações duvidosas e anúncios frívolos, fazendo a cabeça dos espectadores. Estas personagens têm influência direta sobre outros dois: o casal comum, alheio à realidade e adepto das opiniões prontas.

Este não é o primeiro texto de Vișniec dirigido por Jardim. Em 2016, ele estreou “Adeus, Palhaços Mortos” no Centro Cultural São Paulo, inspirado em “Um Trabalhinho para Velhos Palhaços”, do romeno. “Conversei com o elenco e propus fazermos Vișniec, que é um dramaturgo contemporâneo, mas com alguns toques clássicos”, explica o diretor, destacando o gosto do autor pela construção de personagens e pelo trabalho muito voltado para o texto.

O diretor José Roberto Jardim, que em 2016 dirigiu peça inspirada
em “Um Trabalhinho para Velhos Palhaços”, de Vișniec

Comparando os dois espetáculos, Jardim revela que “Adeus, Palhaços Mortos” tinha uma direção mais radical porque o texto era um pouco morto, o que não acontece em “Migrantes”. “A peça já é mais agressiva e politizada, então eu pude fazer uma encenação mais branda”, pondera. “Aqui, Vișniec põe o dedo nas feridas, até porque ele mesmo é um migrante, vindo da Romênia, radicado em Paris.”

Em seu trabalho com os atores, o diretor eliminou gestos banais e cotidianos que pudessem conduzir o público e deixar os personagens caricatos ou previsíveis. “Quanto mais branca for a peça, mais a plateia pode colocar suas próprias cores.”

Serviço
“Migrantes”, com direção de José Roberto Jardim
Teatro Contêiner – Rua dos Gusmões, 47, metrô Luz
2ª a 5ª, 18 a 21/12, 20h

Elenco
Aline Casarin
Andréa Saba
Bettina Valentim
Cristiane Lima
Eric Luciano
Franciele Costa
Hugo Braga
Julia Bicaletto
Julia Terron
Lays Lopes
Leoni Escobar
Letícia de Laurentis
Ligia Alonso
Luna Venarusso
Maíra Romero
Marilia Valencia
Muriel Segovia
Rubia Casagrande
Simone White
Victor Arieta

Estagiária
Marília Mours

Produção executiva
Diretor de produção: Sérgio Audi
Produtora: Jennifer Glass
Técnico: João Dalle Piagge
Estagiários: Lorena Arcazas

Corpo docente
Interpretação – José Roberto Jardim
Expressão Vocal – Maria do Carmo Amaral
Expressão Corporal – Sheila Arêas
Cenário e Indumentária – Atilio Bellini Vaz
Produção e Legislação Teatral – Lilian Sarkis

Agradecimentos
Carol Badra
Laiza Dantas
Paula Hemsi
Piero Damiani
Rodrigo Pocidônio

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